sábado, 26 de abril de 2014

Natureza: procurava tranquilidade, encontrei poluição sonora!

Vista do rio Preguiças, nas proximidades do povoado Tapúio, em Barreirinhas - MA

Imagine só a cena: você em um povoado da cidade de Barreirinhas (MA), à beira do rio Preguiças curtindo sua preguiça, distante da correria e da barulheira estressante dos centros urbanos... Ô vidão! Só que não! O que você não esperava é que encontraria um som bem alto tocando <ironia> só as melhores </ironia> bem no pé do ouvido! Foi o que aconteceu comigo no último feriado, o da Semana Santa.

Estive em Barreirinhas com alguns amigos, mas especificamente no povoado Tapúio. Ficamos na casa de conhecidos que moram à beira do rio Preguiças, uma maravilha! Passávamos a maior parte do tempo de molho no rio. Não fizemos os convencionais passeios realizados na cidade, pois o dinheiro estava curto. Então nos restava aproveitar o feriadão apenas para relaxar e curtir o contato com a natureza. Mas não contávamos com uma surpresinha... Como a casa em que nos instalamos fica bem próxima a um restaurante, lanchas voadeiras atracavam ali aos montes! E todas elas tocavam música alta - muito alta! Parecia haver ali uma competição velada de qual lancha tocava a música com o volume mais alto! Começavam no meio da manhã e iam até à noite. Em um dos dias, inclusive, algumas seguiram com o som até a madrugada.

Quero aqui deixar claro que não tenho nada contra essa atividade. Pelo contrário, acho que seria uma prática até bem interessante, só escolheria um repertório musical menos bizarro e não faria uso de bebidas alcoólicas (que acho um desperdício de dinheiro e de tempo, pois penso ser muito mais produtivo e divertido aproveitar o dia com os amigos sem estar "sedado"). O que acho um absurdo é o desrespeito com os moradores, acostumados à vida tranquila e pacata do local. A percepção que se tem é que os visitantes simplesmente os ignoram, esquecem que ali moram pessoas que possuem os mesmos direitos que eles - mesmo que estas não possuam o mesmo poder aquisitivo.

Em conversa com a senhora muito simpática que nos recebeu em sua casa, amiga da família de um dos amigos que estava comigo, pude perceber a profunda insatisfação que ela sentia, desrespeitada por ver o seu espaço sendo invadido pelos "de fora". Lembro-me até de ouvi-la dizer que, se o contrário acontecesse, o final seria bem diferente; a polícia seria acionada e rapidamente resolveria o problema que inquietasse os abastados senhores, cheios de direitos.

Duas lanchas atracaram bem em frente da casa da senhora, bem próximo à entrada que liga a casa ao Rio. A senhora até chegou a conversar com um dos turistas para pedir que eles atracassem em outro local, mas foi prontamente rebatida com uma proposta financeira, afinal, dinheiro compra tudo, não é? Não. A prova viva disso são esses mesmos senhores, aparentemente com uma boa condição financeira, mas que não conseguiram comprar educação e empatia.

Escrito por: Juliana Vieira, da Redação Foca aí!

segunda-feira, 21 de abril de 2014

"Paixão Segundo Nós": o tradicional e o inovador, de mãos dadas, contando a história da Paixão de Cristo.

Paixão Segundo Nós
Pilatos interpretado por Domingos Tourinho 
Inovador, crítico e desmistificante, o espetáculo “Paixão Segundo Nós”, em cartaz no Teatro João do Vale durante a Semana Santa, proporcionou ao público um momento de reflexão sobre a morte de Jesus Cristo, com um enfoque diferenciado. A angulação é feita a partir dos questionamentos de Pilatos, que, de acordo com a narrativa bíblica, entregou o nazareno à crucificação, embora não constatasse sua culpa. O espetáculo faz parte de uma ação estratégica de criação de público para o teatro maranhense, idealizada pela COTEATRO em parceria com a Companhia Energética do Maranhão (CEMAR).
A produção teatral, que há 26 anos estimula uma discussão sobre a história de Cristo, apresenta uma cenografia bastante simples e surpreende por evocar não apenas personagens presentes na versão tradicionalmente conhecida da via crucis mas também personagens fictícios. Escrita e dirigida por Tácito Borralho e encenada pela Companhia Oficina de Teatro (COTEATRO), a peça elegeu como pontos de partida trechos e adaptações do Evangelho de São Mateus e Evangelhos Apócrifos, dos Cantares de Salomão, Salmos e Provérbios, além de narrativas da obra “Jesus, o Filho do Homem”, de Kahlil Gibran.
Em cada ato, a terrível angústia e o desespero de Pilatos ante a dúvida da sentença proferida se aprofundam. Os antagonistas da narrativa já não são mais o inimigo e Cristo, mas as diversas histórias que existiram ou provavelmente existiram em torno da vida de Jesus. Na tentação, é incluída a mulher, representação de um símbolo sexual e, portanto, uma das tentações de Cristo, que, apesar de seu caráter divino, viveu como homem. Um elemento fictício e bastante dramático é a presença de mulheres que choram por seus filhos e se posicionam contra o messias.
Essa ênfase em personagens fictícios seduziu apreciadores, como a turista Teresa de Jesus Rios, que declarou ter se surpreendido em conhecer a mãe de Judas Iscariotes: "Foi muito bom, pois foi muito moderno, alegre, diferente do que costumeiramente é feito", elogiou.


Cristo negro, jovem e despido


Ao longo dos anos, foi construída, no imaginário ocidental, a figura de um Jesus Cristo de Nazaré de pele clara e santo, a ponto de fugir plenamente aos prazeres terrenos. Segundo Borralho, o fato de o Cristo ser negro foi mera coincidência, pois ele estava à procura de um ator jovem e de voz que denotasse a adolescência. Porém, a apresentação de um cristo negro sugeriu a discussão sobre o negro na sociedade e sua presença na história do cristianismo, que, quase sempre, é deixada de lado nos espetáculos.
Na percepção do estudante Márcio Cutrim, Cristo negro foi um dos principais elementos: “Eles colocam Jesus na figura de um negro porque o negro é sempre excluído da sociedade”.
Ainda sob os efeitos da Jornada Mundial da Juventude, a “Paixão Segundo Nós” traz um jovem no papel do redentor, revelando o Cristo que está entre os homens fazendo bonança. O período em que se criou o espetáculo também influenciou na composição do papel: há 26 anos vivia-se o momento do rock e da juventude “rock in roll”, logo Jesus tinha que apresentar essa essência. Surgiu, assim, o Cristo Jovem.
Fugindo totalmente do tradicional, ao optar por um messias despido, a Coteatro inseriu um elemento bastante díspar e que impactou o público. Cristo sem roupas revela as fragilidades de um Deus que viveu como homem, que sentiu como homem, mas que, historicamente, tem essa condição negligenciada. Ao se deparar com o salvador da humanidade, tendo seu corpo erguido, o público logo revela o espanto, espanto de ver Cristo nu. O que seria a simples continuidade fatídica de uma história cujo que final todos conhecem transforma-se em um conto novo. Borralho conta que, na concepção do espetáculo, o nu tinha que estar presente, pois no momento em que as vestes de Jesus foram rasgadas, seu corpo ficou totalmente exposto: “Jesus não foi crucificado de tanguinha ou de saiote, primeiro que na época eles não usavam. Então por uma questão de falso moralismo, as crucificações são com aqueles saiotes. Segundo, porque a gente  quer trazer o despir inteiro. Ele é homem, é pessoa, e quem vai ser sacrificado tem que estar por inteiro”.

Cristo crucificado e a ressurreição

Paixão Segundo Nós
Cena da Paixão 



Trabalhando com as simbologias da paixão, em a "Paixão Segundo Nós", Cristo não foi crucificado. Tal ato foi representado pelo alçar da terra ao céu e pela nova descida à terra. Após a retirada do corpo de Cristo da cruz, um cortejo o conduz por dentro do teatro, aproximando o público desse momento grandioso e muito aguardado.
O espetáculo reconstruiu a ressurreição: a glória pela volta à vida de Jesus foi representada pela alegria, em um musical cheio de vida e chamativo (não apenas pelo flayer com a letra entregue na entrada do teatro). Ao descer do palco, os atores colocaram-se ao mesmo nível dos espectadores e os conduziram à saída de maneira lúdica. A ressurreição abandonou aquele simples sentimento de volta à vida e incorporou uma essência que parece inexistir nas concepções mais conservadoras.
Gabriel Freire, um dos espectadores, conta sua percepção: “A Bíblia traz sempre a mesma visão do Cristo, dos discípulos, e aqui traz várias visões. Nem todo mundo gostava de Jesus. Além de desmistificar algumas coisas da Bíblia, da igreja, faz a gente se entreter com a história, e a gente acaba sabendo mais sobre o assunto de uma maneira fascinante”.
O também estudante Marcos Martins fala de sua experiência com "Paixão Segundo Nós": “Faz com que nós paremos para pensar e nos transportemos para a época que aconteceu. Eles trazem o fato antigo e transformam no moderno para que nós nos encaixemos e voltemos ao passado. Achei muito boa visão”.

Escrito por: Maurício de Paula, da Redação Foca Aí




domingo, 20 de abril de 2014

Os Focas em “Paixão Segundo Nós”

Tácito Borralho fala sobre um Cristo também humano
Os Focas voltaram à ativa. E, para celebrar este recomeço em pleno sábado de aleluia, marcaram presença no Teatro João do Vale para assistirem ao espetáculo da Companhia Oficina de Teatro (COTEATRO), “Paixão Segundo Nós”. Trata-se de um trabalho de 26 anos que encanta o público ao apostar em uma narrativa diferenciada. Os espectadores puderam ver um Pilatos cheio de questionamentos, um cristo negro integralmente despido, ouvir testemunhos dos discípulos e depoimentos de mulheres sob múltiplos pontos de vista acerca do mesmo homem. E, para envolver ainda mais o público, música, que começou no palco e se espalhou pela platéia até chegar às portas do Teatro. Com melodia de César Teixeira e letra de Tácito Borralho, “Alegria” foi o canto da ressurreição. Enquanto isso, a equipe Foca Aí ouviu alguns apreciadores e depois o diretor da peça, Tácito Borralho, sobre a narrativa apresentada. Em breve, mais informações, com trechos das entrevistas.

sábado, 19 de abril de 2014

Sábado de aleluia

Neste fim de tarde, temos uma importante e indiscutível motivação para nos reportar a nossos caríssimos leitores. Estamos em clima de renovação e trans-formação, estimulados, provavelmente, pelas manifestações comemorativas da Páscoa. É sábado de aleluia e aproveitamos a oportunidade para comunicar ao público que a repentina interrupção das publicações  do Foca Aí se deu pela necessidade de refletirmos sobre nossos primeiros passos no fazer jornalístico.
Desde o mês de dezembro de 2013, por ocasião das celebrações natalinas iniciamos um período de férias, que se estenderem até estes primeiros meses de 2014. Acontecimentos noticiáveis na esfera cultural não faltaram. Alguns, alegres, como o carnaval que quebrou o jejum de títulos da Turma do Quinto, a apresentação das produções cinematográficas locais no Maranhão na Tela, a IX Semana do Teatro no Maranhão. Outros, mais tristes, como a perda do radialista Tony Tavares, do compositor Nonato Buzar e do bailarino Antônio Gaspar. Entretanto, optamos por uma espécie de jejum de produção escrita, alimentando tão somente nossa capacidade de observação.
A experiência do recolhimento ajudou-nos a analisar melhor a forma como as notícias sobre a vida cultural da cidade têm sido produzidas e divulgadas, a levantar pontos de discussão acerca de nossos trabalhos e de sua necessária reestruturação. Assim, reiniciamos nossas atividades para compartilharmos com todos vocês nossas narrativas, que testemunham nossos olhares e experiências em constante mudança. Fazemos, ainda, votos de uma Páscoa iluminada.