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Roda de Conversa "Ativismo digital e as novas formas de Resistência"
(ALCAR Nordeste 2014) |
O campus da UFMA, em
São Luís, tornou-se palco de amplos debates sobre a história da mídia nos dias
08 e 09 de maio, na mesma semana em que o Seminário Carajás 30 anos também
debatia uma problemática de repressão e resistência. No seminário, pesquisadores,
ativistas e representantes de trabalhadores de áreas marcadas por conflitos
socioambientais exploraram um tema relevante para o contexto local. Professores
do curso de Comunicação Social da UFMA participaram do debate, a mídia NINJA se
fez presente e atuante, mas a imprensa tradicional do estado deu pouco espaço
ao evento. Esse episódio e suas implicações não passaram despercebidos no III
Encontro de História da Mídia - ALCAR Nordeste 2014, estimulando reflexões.
Considerando o caso
destacado, constata-se que ler e escrever a história da mídia é uma atividade
que começa no ambiente acadêmico. Nesse sentido, o professor Ferreira Jr.,
coordenador da edição 2014 do encontro, acredita em avanços no Maranhão, pela
própria realização do encontro regional no estado, assim como do nacional em
2006. Interpreta isso como engajamento de estudantes e demais pesquisadores da
área nessa atividade.
Registrar para construir a memória
Tendo em vista que a
Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (ALCAR) abre
espaços para inquietações nacionais e locais, amplia-se, nesses eventos, a
possibilidade de trazer para o espaço público o que está silenciado. Conforme a
presidente Berenice Machado, A ALCAR quer registrar, disponibilizando todos os
trabalhos que são apresentados. “Isso é registro, isso é memória”, enfatiza.
Berenice lembra ainda
que a proposta da Associação é “que se aprofundem as pesquisas e as discussões
envolvendo a história da comunicação, da mídia, os meios de comunicação das
diferentes formas e manifestações”. O questionamento de Domingos de Almeida,
estudante de Jornalismo do campus de Imperatriz, traduz uma inquietação neste
sentido: “Como é que eu faço jornalismo e não conheço a história daquilo que eu
faço?”
Esse questionamento é
pertinente, já que o número de trabalhos inscritos (40) indica ainda “não se
criou o hábito de apresentar trabalhos em GT’s, as pessoas se assustam um
pouco, sobretudo os meninos da graduação”. É o que avalia Ferreira Jr, que faz,
também, uma observação em relação a estados vizinhos: “eu acho até que nós do
Maranhão precisamos acompanhar o ritmo de outros estados, que já têm
pós-graduação, que têm linhas de pesquisa voltadas para a história do
jornalismo, história da mídia”.
Convém, desse modo,
que ações de incentivo em sala de aula não sejam negligenciadas pelos
professores. Dora Silva, do primeiro período do curso de jornalismo de
Imperatriz, é um exemplo de uma dessas ações: “eu nunca tinha participado de um
encontro assim que envolve muitas, muitas pessoas (...), inclusive do Maranhão
(...). Os professores falaram que seria bom a gente ter experiência de um
evento desse porte”.
O incentivo do
docente também pode ser percebido por quem realiza e divulga a produção
científica. Em um GT (grupo temático) do encontro, o Professor Marcos Figueiredo, do curso de
Comunicação Social da UFMA, apresentou o trabalho intitulado “Uma volta ao
passado: os primeiros passos da TV Difusora, a primeira televisão maranhense”.
Com o entendimento de que esse registro é necessário, ele avalia como
fundamental a inserção do estado “nesta agenda nacional de debates tão
importantes na área da comunicação”.
Rememorar para fazer a história
A professora da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marialva Barbosa, que ministrou a
conferência de abertura do encontro, tratou do papel da imprensa durante o
regime ditatorial (fruto do golpe de 64). A professora fez uma retrospectiva
histórica, apontando vários segmentos da sociedade e parte da imprensa como
colaboradores do regime, de forma ativa ou omissa. E foi além, traçando um
paralelo entre as mobilizações pré e pós redemocratização. Para ela, “a
história é produzida por aqueles que a vivem cotidianamente”.
Quanto ao século XXI,
Marialva destacou a atuação da mídia NINJA, que, com o auxílio das novas
tecnologias, deu grande visibilidade e repercussão ao “Vem pra rua”, das
manifestações de junho de 2013, e à ação dos integrantes do Black block
enquanto movimento de resistência. Essa discussão agradou, de forma que a estudante
de Jornalismo da UFMA, Natália Madeira, considerou a conferência “uma das
partes mais bacanas” do evento.
Os professores da
Casa, Carlos Agostinho Couto, Franklin Douglas e Márcio Carneiro também
exploraram esse tema, com a Mesa “Ativismo digital e novas formas de
resistências”. Em seus discursos, alertaram sobre o risco de rechaçar ou
enaltecer o universo digital e/ou o ativismo que nele se realiza, já que são
marcados por mudanças e permanências. Nesse contexto, lamentaram a difícil
situação do debate no Maranhão sobre determinadas pautas, tomando como exemplo
o Seminário Carajás. Tanto na mídia tradicional como na blogosfera, o evento
ficou fora do debate, pois questiona o modelo de desenvolvimento adotado por
grandes corporações, conforme esclarece Franklin Douglas. Ele aponta, de modo
pertinente, uma razão: "A Companhia Vale do Rio Doce é uma das principais,
se não a maior, anunciante, patrocinadora de diversos veículos".
Ler e escrever a
história da mídia consiste, portanto, em investir na formação, para um fazer
jornalístico mais consistente e engajado. Retomando as declarações de Marialva
Barbosa, pode-se concluir que existem muitos caminhos a serem explorados: “O
jornalismo é uma das profissões mais promissoras do século XXI, mas não o
jornalismo tradicional como a gente conhece”.
Escrito por: Joelma Baldez, da Redação Foca Aí