terça-feira, 13 de maio de 2014

126 Anos de Omissão

Para os racistas 13 de Maio é um dia de fazer de conta que somos todos iguais. Fingir que as relações raciais são harmônicas. Fingir que o amor não tem cor, pois as pessoas são transparentes. Fingir que não existe racismo. Fingir que somos uma democracia racial. Fingir que a miscigenação é benéfica e erradicou a possibilidade de ódio racial. Fingir que a escravidão foi branda. Fingir que a liberdade foi concedida pela bondade da realeza de ascendência lusitana. Fingir que o negro é o mais racista, pois vendeu seus irmãos na África e repudia seus irmãos hoje.
Para o povo negro é mais um dia de lutar contra as flagrantes e presentes desigualdades. Lutar contra as discriminações. Lutar contra a imposição do embranquecimento estético, cultural, político e ideológico. Lutar contra o racismo no interior da própria família propagado por parentes (e até cônjuges) de etnias diferentes. Lutar contra o racismo institucional promovido pelo próprio Estado que se omite ou que efetivamente atua na opressão e extermínio da população negra. Lutar contra a insistência de que o racismo é velado, como se não existissem inúmeras demonstrações cotidianas de preconceito. Lutar contra os reflexos ainda perceptíveis da escravidão. Lutar pelo reconhecimento da importância da militância negra no passado e no presente para construir as mobilizações futuras. Lutar para conscientizar irmãos e irmãs que permanecem influenciados pelo ideário racista, sendo cúmplices da própria opressão.
13 de Maio não é o dia de lembrar a falsa abolição, que nos tirou da escravidão e nos levou à miséria, ao sub-emprego, à violência, à criminalização. 13 de Maio é dia de lutarmos para acabar com o que ainda resta da hierarquização da nossa sociedade historicamente racializada.
Nesse dia temos que lutar para sermos reconhecidos como seres humanos, diferentemente do que milionários oportunistas e pessoas que eternamente repudiaram a própria negritude tentaram nos convencer nos animalizando tal qual os escravistas.

Escrito por um leitor, especialmente para a Redação Foca Aí


Richard Christian Pinto dos Santos, marido de uma negra, pai de outra, professor de escolas públicas de periferia com alunado majoritariamente negro, estudante de doutorado numa turma com 25% de pessoas negras num estado com 75% de negros na população total, militante de movimento negro, pesquisador das relações raciais na sociedade brasileira.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Interaja com a gente!