sábado, 30 de agosto de 2014

Maratuque Upaon-açu: uma breve história sobre a nova roupagem da cultura maranhense.

ESPECIAL - PELOS CANTOS DE ENCANTOS DA ILHA

O Maratuque Upaon-açu é um grupo de percussão originário de São Luís do Maranhão que mistura diversos ritmos, como a dança do coco, afoxé, bumba-meu-boi e suas diversas formas de manifestação, como o sotaque da baixada, boi de zabumba, além de influências como o Maracatu de Pernambuco, claro que com uma forma mais maranhense de ser.

Integrantes do grupo logo após apresetação 
no Centro-Histórico de São Luís
O conjunto surge no fim de 2007, com a chegada do musicólogo, percussionista e professor pernambucano Marcelo Santos, que veio a São Luís estudar os ritmos da cidade e a expressão do bumba-meu-boi. Através do Laborarte, Marcelo Santos também acabou conhecendo o Tambor de Crioula e resolveu oferecer uma oficina pra apresentar o Maracatu, famoso no seu estado, que mistura a religiosidade do Candomblé com ritmos musicais e tambores. Algumas pessoas se interessaram muito pelo ritmo e resolveram misturá-lo à cultura maranhense. Surgia assim o Maratuque Upaon-açu.

Em entrevista, a percussionista e líder da equipe, Cristiane Lima Souza, afirma que o Maratuque é muito dinâmico e, por isso, preferiram chamá-lo de grupo, pois não é fechado como uma banda. É um grupo que já passou por diversos processos de mudança e renovação de integrantes, além de estar aberto para receber novos participantes. Desde a formação original de 2007, apenas quatro integrantes permaneceram, mas hoje, o Maratuque abriga mais de vinte músicos, percussionistas e instrumentistas. Cristiane fala ainda que esse grupo foi e é muito importante para sua formação pessoal, pois, nele, ela encontrou sua identidade cultural e, através dele, passou a se interessar mais pela arte e fez várias viagens para estudar os ritmos do nordeste.

Alguns instrumentos utilizados na apresentação 
do MaratuqueUpaon-açu.
O ritmo do Maracatu criado no Maranhão é bem diferente do original pernambucano, embora este tenha sido a principl influência e inspiração do Maratuque Upaon-Açu. No ritmo pernambucano existe todo um fundo religioso absorvido do Candomblé, com rituais e misticismos, o que se diferencia do maranhense, que tem como principal objetivo a música e a percussão. A formação do Maratuque consiste na harmonia estabelecida entre os seguintes elementos: uma regente, chamada também de “apito”; os agbês, também chamados de xequerês (em um total de cinco pessoas); duas caixas, tocadas por um casal de integrantes; o ferro; e as alfaias que são os instrumentos que mais chama a atenção durante a apresentação, pois são instrumentos grandes e bem parecidos com tambores.

Cristiane ainda comenta sobre a importância do Maratuque para a difusão da cultura maranhense, através da fusão de vários ritmos, misturando os instrumentos do Maracatu com a criatividade e o jeito maranhense de fazer músicas, aproveitando para preservar ritmos não tão conhecidos como o da baixada maranhense e contribuindo assim para a manutenção da nossa tradição e a renovação da música, chamando atenção e a atiçando a curiosidade das novas gerações. Ela chama atenção também para o preconceito que o grupo sofreu, por ter influências de fora do estado.
“O bumba-meu-boi vem de tradições e os mestres estão falecendo, deixando na responsabilidade de seus filhos a manutenção dessa cultura. Mas podemos notar que hoje em dia a juventude está esquecendo muito de levar a tradição adiante, o boi de orquestra por exemplo está totalmente desfigurado da versão mais antiga, o Boi de Axixá é um dos que ainda preservam a tradição. O foco hoje do Bumba-meu-boi é mais comercial, com índias e índios bonitos e roupas para chamar atenção pela estética, fugindo um pouco da verdadeira essência. Nós tentamos difundir essa tradição, mostrando os diferentes ritmos do boi para que as pessoas tenham contato com nossa música, nossa cultura”, acrescenta.

Grupo Maratuque durante cortejo no Reviver
O Maratuque possui várias canções autorais, todas compostas pela ex-integrante Thaís Marques, que hoje está residindo em outro estado e precisou sair do conjunto. As letras geralmente falam sobre o Maranhão, a cultura maranhense, apresentando muitas influências das canções de bumba-meu-boi, tambor de crioula, cacuriá e, às vezes, influências religiosas também. O grupo não recebe qualquer apoio financeiro de órgãos públicos ou ONG, todo o material usado é confeccionado pelos próprios integrantes, e os instrumentos são comprados pelas pessoas que os tocam. Em entrevista, a regente Cristiane Lima afirma que o grupo possui uma espécie de caixa que é feito pelas contribuições mensais dos integrantes e serve para cobrir as despesas gastas.
Aquecimento dos tambores, 
também chamados de Alfaias


Pode-se dizer que o Maratuque é um projeto cultural único, pois além de fazer uma junção de várias influências musicais e rítmicas, é também uma equipe dinâmica e aberta ao público que se interessar em participar, contribuir e se tornar um membro. É denominado pelos integrantes como um “grupo de rua”, faz várias manifestações artísticas principalmente nas ruas da Praia Grande, é acompanhado pelas pessoas que assistem numa espécie de cortejo, onde todos se contagiam e dançam ao ritmo dos tambores tradicionais.



Aqui no Maranhão, o Maratuque ainda se preocupa em promover ações culturais e sociais onde ensinam a tocar a percussão e, sempre que entram novos membros no grupo, a regente é quem fica responsável pela orientação. Também se manifestam em favor da preservação do Centro Histórico maranhense, sempre se interessando em contribuir com os movimentos que visam ações com essa proposta.

Ensaio do grupo, na praça Maria Aragão em São Luís
Os ensaios do conjunto acontecem todos os domingos às 10 h da manhã, na Praça Maria Aragão. A escolha do local se deu por ser um espaço aberto e gratuito, garantindo as pessoas assistirem aos ensaios e poderem entrar em contato com os integrantes do grupo com maior facilidade. Quando acontecem muitas apresentações, os ensaios ocorrem também durante a semana, sempre na quinta-feira às 20h.

Reunião do Maratuque na Praça Nauro Machado,
 no Centro-histórico de São Luís.
São inúmeras as apresentações já feitas pelo Maratuque Upaon-açu, destaca-se a apresentação feita no evento O Mestre Mandou, realizada pelo Mestre Amaral. Essa semana o grupo se apresentou no Movimento Sebo no Chão, que acontece no bairro do Cohatrac todos os domingos e foi convidado também, pela primeira vez, para participar da Mostra do Boi de Iguaíba neste mês de agosto. Além disso, saem em cortejos toda semana no Reviver.

A divulgação do Maratuque é feita pelas redes sociais, pode-se entrar em contato com os integrantes por meio da página do Facebook Maratuque Upaon-açu e pelo grupo aberto no facebook com mesmo nome. Possuem Instagram e contam com a divulgação nos jornais da cidade quando participam de algum evento de grande porte.

É de grande importância para a cultura maranhense a contribuição e criação de grupos como o Maratuque Upaon-açu, que se preocupam em preservar a tradição e levar adiante essa enorme riqueza de ritmos musicais e danças presentes em nosso estado. É muito bom saber que podemos contar com a dedicação e entrega pessoal de cada integrante, além da forma como tudo é feito com amor e carinho, contagiando a todos que assistem. São exemplos como esses que devem ser seguidos para um melhor aproveitamento da cultura, da arte e da música em São Luís.


Escrito por Ingrid Cutrim, colaboradora do blog Foca Aí

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