terça-feira, 13 de maio de 2014

Ler, escrever e fazer a história da mídia no Maranhão: trajetos desafiadores

ALCAR Nordeste - em 09-05-14
Roda de Conversa "Ativismo digital e as novas formas de Resistência"
            (ALCAR Nordeste 2014)
O campus da UFMA, em São Luís, tornou-se palco de amplos debates sobre a história da mídia nos dias 08 e 09 de maio, na mesma semana em que o Seminário Carajás 30 anos também debatia uma problemática de repressão e resistência. No seminário, pesquisadores, ativistas e representantes de trabalhadores de áreas marcadas por conflitos socioambientais exploraram um tema relevante para o contexto local. Professores do curso de Comunicação Social da UFMA participaram do debate, a mídia NINJA se fez presente e atuante, mas a imprensa tradicional do estado deu pouco espaço ao evento. Esse episódio e suas implicações não passaram despercebidos no III Encontro de História da Mídia - ALCAR Nordeste 2014, estimulando reflexões.
Considerando o caso destacado, constata-se que ler e escrever a história da mídia é uma atividade que começa no ambiente acadêmico. Nesse sentido, o professor Ferreira Jr., coordenador da edição 2014 do encontro, acredita em avanços no Maranhão, pela própria realização do encontro regional no estado, assim como do nacional em 2006. Interpreta isso como engajamento de estudantes e demais pesquisadores da área nessa atividade.

Registrar para construir a memória

Tendo em vista que a Associação Brasileira de Pesquisadores de História da Mídia (ALCAR) abre espaços para inquietações nacionais e locais, amplia-se, nesses eventos, a possibilidade de trazer para o espaço público o que está silenciado. Conforme a presidente Berenice Machado, A ALCAR quer registrar, disponibilizando todos os trabalhos que são apresentados. “Isso é registro, isso é memória”, enfatiza.
Berenice lembra ainda que a proposta da Associação é “que se aprofundem as pesquisas e as discussões envolvendo a história da comunicação, da mídia, os meios de comunicação das diferentes formas e manifestações”. O questionamento de Domingos de Almeida, estudante de Jornalismo do campus de Imperatriz, traduz uma inquietação neste sentido: “Como é que eu faço jornalismo e não conheço a história daquilo que eu faço?”
Esse questionamento é pertinente, já que o número de trabalhos inscritos (40) indica ainda “não se criou o hábito de apresentar trabalhos em GT’s, as pessoas se assustam um pouco, sobretudo os meninos da graduação”. É o que avalia Ferreira Jr, que faz, também, uma observação em relação a estados vizinhos: “eu acho até que nós do Maranhão precisamos acompanhar o ritmo de outros estados, que já têm pós-graduação, que têm linhas de pesquisa voltadas para a história do jornalismo, história da mídia”.
Convém, desse modo, que ações de incentivo em sala de aula não sejam negligenciadas pelos professores. Dora Silva, do primeiro período do curso de jornalismo de Imperatriz, é um exemplo de uma dessas ações: “eu nunca tinha participado de um encontro assim que envolve muitas, muitas pessoas (...), inclusive do Maranhão (...). Os professores falaram que seria bom a gente ter experiência de um evento desse porte”.
O incentivo do docente também pode ser percebido por quem realiza e divulga a produção científica. Em um GT (grupo temático) do encontro, o Professor Marcos Figueiredo, do curso de Comunicação Social da UFMA, apresentou o trabalho intitulado “Uma volta ao passado: os primeiros passos da TV Difusora, a primeira televisão maranhense”. Com o entendimento de que esse registro é necessário, ele avalia como fundamental a inserção do estado “nesta agenda nacional de debates tão importantes na área da comunicação”.

Rememorar para fazer a história

A professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Marialva Barbosa, que ministrou a conferência de abertura do encontro, tratou do papel da imprensa durante o regime ditatorial (fruto do golpe de 64). A professora fez uma retrospectiva histórica, apontando vários segmentos da sociedade e parte da imprensa como colaboradores do regime, de forma ativa ou omissa. E foi além, traçando um paralelo entre as mobilizações pré e pós redemocratização. Para ela, “a história é produzida por aqueles que a vivem cotidianamente”.
Quanto ao século XXI, Marialva destacou a atuação da mídia NINJA, que, com o auxílio das novas tecnologias, deu grande visibilidade e repercussão ao “Vem pra rua”, das manifestações de junho de 2013, e à ação dos integrantes do Black block enquanto movimento de resistência. Essa discussão agradou, de forma que a estudante de Jornalismo da UFMA, Natália Madeira, considerou a conferência “uma das partes mais bacanas” do evento.
Os professores da Casa, Carlos Agostinho Couto, Franklin Douglas e Márcio Carneiro também exploraram esse tema, com a Mesa “Ativismo digital e novas formas de resistências”. Em seus discursos, alertaram sobre o risco de rechaçar ou enaltecer o universo digital e/ou o ativismo que nele se realiza, já que são marcados por mudanças e permanências. Nesse contexto, lamentaram a difícil situação do debate no Maranhão sobre determinadas pautas, tomando como exemplo o Seminário Carajás. Tanto na mídia tradicional como na blogosfera, o evento ficou fora do debate, pois questiona o modelo de desenvolvimento adotado por grandes corporações, conforme esclarece Franklin Douglas. Ele aponta, de modo pertinente, uma razão: "A Companhia Vale do Rio Doce é uma das principais, se não a maior, anunciante, patrocinadora de diversos veículos".

Ler e escrever a história da mídia consiste, portanto, em investir na formação, para um fazer jornalístico mais consistente e engajado. Retomando as declarações de Marialva Barbosa, pode-se concluir que existem muitos caminhos a serem explorados: “O jornalismo é uma das profissões mais promissoras do século XXI, mas não o jornalismo tradicional como a gente conhece”.

Escrito por: Joelma Baldez, da Redação Foca Aí

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